terça-feira, 17 de dezembro de 2013

17 de Dezembro

Farsante

Já tinham esvaziado o segundo [ou o décimo-nono] barril de vodca na birosca ao lado da estação de trem de Kyrzylkum hoje em 1904 [beirada do deserto do Balkash] quando alguém [também com uísque de cevada na cabeça] berrou que vinha ali um gaiato sósia do Czar. Um segundo depois o gajo apareceu e uma gargalhada inundou o lugar: nunca se vira alguém mais diverso do Imperador. Baixinho, mais exatamente mirrado, de olhar incerto e fala mais ainda, o farsante pediu uma dose.

Ninguém lhe perguntou, mas [com o ar de um homem para quem a vida perdeu o valor] disse que decidira viajar incógnito para ver por si mesmo a situação na guerra russo-japonesa. O trem desarranjou e continuou a viagem só com uma locomotiva e um vagão. O vagão descarrilhara a poucos quilômetros e todos os braços eram necessários para o reparo. Viu uma luz ao longe e decidiu pedir algo quente. Recusou os puxa-sacos que o acompanhavam desde que nascera. A luz era aquela espelunca. Disseram-lhe

Mentira! Perdendo uma guerra e sem nem um trem que preste – nosso Czar não é tão incompetente assim!

Tomou o último gole: Tem razão – o nosso Czar não deveria ser tão incompetente assim

e derrubou uns rublos e saiu. Riram de novo do gaiato. Que não riu de nada.

A fofoca veio aos pedaços: souberam de uma missão secreta para ver a guerra, depois que o próprio ministro da guerra estava nela, depois o próprio imperador. Não acreditaram. Mas pelo sim pelo não a birosca nunca mais foi vista.

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