Farsante
Já tinham esvaziado o segundo [ou
o décimo-nono] barril de vodca na birosca ao lado da estação de trem de Kyrzylkum
hoje em 1904 [beirada do deserto do Balkash] quando alguém [também com uísque
de cevada na cabeça] berrou que vinha ali um gaiato sósia do Czar. Um segundo
depois o gajo apareceu e uma gargalhada inundou o lugar: nunca se vira alguém
mais diverso do Imperador. Baixinho, mais exatamente mirrado, de olhar incerto
e fala mais ainda, o farsante pediu uma dose.
Ninguém lhe perguntou, mas [com o
ar de um homem para quem a vida perdeu o valor] disse que decidira viajar incógnito
para ver por si mesmo a situação na guerra russo-japonesa. O trem desarranjou e
continuou a viagem só com uma locomotiva e um vagão. O vagão descarrilhara a
poucos quilômetros e todos os braços eram necessários para o reparo. Viu uma
luz ao longe e decidiu pedir algo quente. Recusou os puxa-sacos que o
acompanhavam desde que nascera. A luz era aquela espelunca. Disseram-lhe
Mentira! Perdendo uma guerra e sem nem um trem que preste – nosso Czar
não é tão incompetente assim!
Tomou o último gole: Tem razão – o nosso Czar não deveria ser tão
incompetente assim
e derrubou uns rublos e saiu. Riram
de novo do gaiato. Que não riu de nada.
A fofoca veio aos pedaços:
souberam de uma missão secreta para ver a guerra, depois que o próprio ministro
da guerra estava nela, depois o próprio imperador. Não acreditaram. Mas pelo
sim pelo não a birosca nunca mais foi vista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário