Anjos sem asa
Os Anjos de Amhitar são Terríveis e essa frase [por tempos atribuída
a um imitador de Abdul Al-Wazahari e que depois se descobriu ser dele mesmo] só
demole sua sesquipedal banalidade pelo seu meio de Amhitar. Tal pequeno adjunto adnominal vale por um tratado teológico
de não pouca originalidade – as concepções angélicas variam titanicamente mas
em algo todas concordam – os anjos são iguais em todo o mundo e em todo o
universo [sendo tal pretensão universalista (dizem os eternos críticos não sem
certa dose de agnosticismo) decorrente do absolutismo eu-sou-certo-e-tu-és-errado
que se esconde em cada religião].
De fato [continuam as únicas nove
linhas sobreviventes do macerado pergaminho de Al-Wazahari] os anjos amhitarianos
nada têm em comum com os bichinhos de olhos azuis e pele de bebê que se veem em
gravuras e filmes de Hollywood: para começar eles não têm olhos – pelo menos
alguns deles. Outros [o que os torna ainda mais monstruosos] têm 399 deles [não
se dando o sábio ao trabalho de revelar quem fez tão rigorosa contagem]. [Previsivelmente]
também não possuem asas.
O pior dos anjos amhitarianos [no
entanto] é sua atitude; não são mensageiros de nada – não consolam, não
frustram. Apenas observam – como os peixes em volta do Titanic devem ter
observado. Por tais características, os anjos de Al-Wazahari nunca gozaram de
popularidade e só Deus [ou os anjos mesmo, quem sabe] explicam sua permanência
nestas Efemérides.
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