O Primeiro dos delírios de Amhitar
Utkirbek Lennon mordiscou um
cogumelo no quadragésimo-nono deserto do Platô de Qyzylorda em alguma noite de
1973 e seu espírito se destacou de seu corpo [ou se juntaram, pois no caso do
mago da contracultura amhitariana essas metades costumavam se separar –
geralmente depois de cheirado, fumado ou injetado – às vezes os três].
Na sua alucinação [ou realidade finistélica – como ele mesmo
dizia e ninguém entendia nada] viu um país de ponta-cabeça. Não literalmente
[embora por alguns segundos aquela terra magicruélica realmente tenha invertido
as leis da gravidade] mas porque nela o verdadeiro existia, porém apenas como
pedaços para nele se construir uma mentira nova – nova, pois a mentira já
existia [ela é o que se chama de realidade].
Naquele país de delírio [que um
visor semelhante a neon lhe revelou ter o nome piscante (e sem sentido) de Amhitar] ele mesmo [como um Descartes
que não sabia de onde vinha] possuía uma existência – ele era um hippie meio fora de época e lugar [afinal
os sessenta já tinham passado, e ele não era californiano]. Isso lhe bateu como
um martelo, pois ele [apesar de todas as substâncias estranhas que já empurrara
para dentro] sempre soubera se chamar Utkirbek Lennon e pertencer a um país
chamado Amhitar – e agora um pedacinho de cogumelo lhe informava que Amhitar era
um delírio, e que ele Utkirbek, era parte daquilo. E então, quem era ele?
Mordiscou outro pedaço para ter a
resposta.
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