O Terceiro dos delírios de Amhitar
Serguei Mikhailovitch Kovinev aos
quarenta e sete dias de idade decidiu que Deus não existia [tal data
(compreensivelmente sujeita a contestação) se baseia apenas em seu próprio
testemunho]. E com quarenta e sete anos e a mesma quantidade de horas [sem que
essa recorrência numérica deixe de causar fundamentadas suspeitas] ao abrir
[talvez pela bilionésima-segunda vez] o terceiro tomo dos Princípios de Estética de Hegel [em um dia neblinento em torno da Biblioteca do Guia Genial dos Povos o Grande
I. V. Stalin] pensou que Deus [com certeza] era um delírio – mas que os delírios
podem às vezes ser reais.
De fato o sábio [em palestra dias
depois na Academia Soviético-Proletária]
revelou o seu pensamento. Mas não foi tanto a existência divina que o
preocupava mas aquela dos delírios. Kovinev [revelam os apontamentos do aluno
dedo-duro que o entregou] disse que era possível que aquela caneta [portava uma
caneta] e aquela lousa [apontava uma lousa] fossem sonhos; não só elas, mas o
solo no qual se apoiavam; não só o solo mas o país. Amhitar inteira poderia ser
uma invenção, uma meia-maluquice [ou completa]. E por fazerem parte dela, todos
seriam delírios, a começar de quem lê um relato sobre tal país inexistente. Tais
declarações se tornaram ainda mais bombásticas ditas por um geógrafo – um profissional
do que é sólido.
Por tal subversão foi chamado se
explicar perante a subseção de pureza ideológica do Comitê Central.
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