O Quarto dos delírios de Amhitar
Iroshka Maruf [O Amor e os Sonhos são Terríveis] deixou
sua casa em uma noite de Tempestade no dia anterior àquele em que completaria
quinze anos [um Tempo que meu passado já
não recorda] em busca de uma sombra.
A poetisa voltou à primeira luz do
dia, com um lenço de lã [o qual não levara ao partir] e um escaravelho semelhante
a ouro [cujo aspecto antigo e vestígios de areia inevitavelmente geraram
especulações de que seria relíquia de um reino de eras esquecidas]. Pediu um
beijo da avó, [um caldo de aveia da avó], e um maço de papéis finos. O Poema para Aqueles que Não Esperam revelou
ser o mais misterioso [e o mais lúgubre, segundo alguns] dos trabalhos da escritora.
Não se trata de amor – o Poema se refere a um Reino que [mais do
que banalmente ter existido, ou não existir nunca] acontece de maneira fictícia,
abrangendo inclusive as pessoas que nele [pensam que] vivem. Sua quinta [e
principal] parte afirma como um rapaz [vestido de branco com botões dourados
mas que, aparte disso, ela não descreve com detalhes] deu a ela as duas
pequenas lembranças e colocou seu dilema: revelar a todos a inexistência [inclusive
a da própria poetisa] e arriscar perder a tudo e a si, ou continuar a ficção
[ou farsa, segundo intérpretes mais pesados]. [Estes dizem (não sem certo
masoquismo) que tal Reino inexistente seria o próprio Amhitar].
Perguntavam-lhe. A poetisa sorria e olhava o
escaravelho [que a essa altura causava arrepios].
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